Que o mundo da moda fascina, isso todo mundo sabe. Mesmo quem afirma não se importar com ela, acaba, hora ou outra, tropeçando na afirmação ao comprar tal objeto porque é o mais usado no momento. Ou até mesmo comprar algo por ser de tal marca, que é reconhecida no mercado e no meio social.
Com a ascensão da classe C, e com a internet circulando cada vez mais rápido o que está "in voga" ou o que é o fashion do momento, tais produtos são também objetos de desejo dessa classe, cujo poder de compra aumentou. São consumidores que sabem que determinados produtos existem, querem adquirí-los, mas não podem viajar para comprá-los ou mesmo pagar o alto valor com que são vendidos aqui no Brasil. Ao mesmo tempo que existem os compradores da classe B, que podem ir comprá-los, mas não tem tempo de viajar para o exterior com a periodicidade com que são lançadas as novas coleções.
Foi pensando nesse público que Mariana Rosas, 22 anos, começou a sua forma de trabalho. “Além de estudante, uma empresária autônoma, porque eu ainda não me formalizei.” Sua ocupação? Trazer produtos de grifes estrangeiras para o Brasil a baixo preço. Mariana, que afirma já fazer uso dos produtos antes mesmo de revendê-los, acha até indispensável no seu ramo que ela também circule com os itens que revende. “É como se eu fosse minha própria vitrine. Então, às vezes, o que eu estou consumindo, acaba até influenciando na compra de um cliente meu. Eu acabo sendo uma vitrine viva dos meus próprios produtos!”
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Entre os produtos que Mariana vende estão bolsas, óculos, perfumes e maquiagens. |Foto: Carla Herbelly
Como opção de produtos importados mais em conta temos as réplicas. Se despercebido, o consumidor pode nem diferenciar um produto original de um secundário. Sobre o consumo de réplicas, a estudante dispara: “Não compro, não tenho nenhum preconceito, mas é aquela coisa, se eu vendo um artigo original, a partir do momento que eu tiver vendendo ou consumindo uma réplica, pode atrapalhar na venda das minhas coisas que são originais. Assim, acontecer de um cliente ficar na dúvida, e é justamente isso que eu evito.”
E Mariana parece mesmo prezar pelo cliente, é tanto que, em dois anos, já conquistou uma clientela fiel, sempre ansiosa à espera da sua próxima viagem para os Estados Unidos, local onde a jovem costuma ir a cada três meses. “Geralmente, eu viajo quatro vezes ao anos, porque é o tempo de lançarem coleção nova lá e de eu arrecadar o capital de giro para eu fazer outra viagem, porque é uma viagem que tem um custo muito alto.”
Apesar do alto custo, o retorno é ótimo. Mariana gasta, para realizar a viagem, em torno de R$ 15 mil e lucra até R$ 27 mil.
Ao ser indagada sobre a alfândega, a forma como dribla a fiscalização, ela diz sem constrangimentos: “Assim, eu tento trazer coisas como se fosse os mais pessoais possíveis. Eu já deixo bem avisado para os meus clientes que, por exemplo, eu não trago uma roupa com etiqueta. Ela vem toda novinha, com cheirinho de nova, toda bonitinha, mas eu não trago com a etiqueta, para ser como se fosse para mim. E eu tento trazer sempre o máximo possível real, como se fosse meu. Outra coisa também, eu evito trazer eletrônico, porque a alfândega implica muito com eletrônico. Então, eu já falo que eu trago mais roupa, bolsa e sapato e tenho uma cota de perfumes. Porque trazer uma bolsa só de perfumes, uma bolsa só de relógios, não pode, então eu trago tipo 8 perfumes, 5 relógios... “
E o motivo de tanto sucesso? Mariana afirma ser o preço justo! Tenta sempre pesquisar o mercado de revendedores de artigos importados aqui em Fortaleza e fazer um preço igual ou melhor. Além de ter cuidado com suas clientes, sempre atenta às novidades, traz o que a mulherada vai gostar de ver.
Quanto à periodicidade com que é procurada para a obtenção desses importados, ela declara: “O legal dos produtos importados é porque ele é como se fosse assim, um produto que vende por si só. E é muito boca-a-boca! Eu tenho uma cliente que a amiga dela viu a bolsa dela e gostou. 'Ah, compra com a Mariana, o preço dela é bom.'. Aí me indica e acaba dando certo. É um telefone sem fio, uma cliente que vai indicando outra, indicando outra, e a cada viagem aparece mais gente".
Com a alta dos produtos importados em território nacional, assim como da moda como um todo, não é de se impressionar que Mariana tenha tanto bom êxito em suas vendas. Com um preço justo e um bom atendimento, é quase certa a reincidência da cliente.
Entre seu sucesso de vendas, estão as marcas Michael Kors, Calvin Klein, Tommy Hilfiger, Carolina Herrera e Armani para perfumes, e Mac para maquiagens, as quais Mariana afirma serem as mais procuradas por suas clientes. E por serem marcas caras, ela sabe que o investimento requer retorno de satisfação, e não compra os produtos em camelôs, somente em outlets dos Estados Unidos ou nos Malls, shoppings onde existem lojas físicas de algumas marcas norte-americanas.
Mariana afirma não fazer essa revenda somente por dinheiro, diz que gosta mesmo. Que mesmo quando montar a marca própria, que é o sonho dela, de uma forma ou outra, sempre vai exercer um pouco essa função, nem que seja quando viajar para outro país e acabar trazendo encomenda para alguma amiga. E afirma que sim, teria interesse em exercer essa revenda de forma legalizada, pagando todas as taxas e impostos. “Nada como ter tudo legalizado, não é?!”
Que a atividade de venda de produtos importados driblando as taxas aqui no Brasil é vantajosa, sabemos e confirmamos com a entrevista da Mariana C. R. Agora, vamos saber o que os consumidores acham dos preços e dessa atividade em si, do que gostam mais e o que preferem. O que elas acham! A jovem Alice Belém, advogada, 27 anos, uma amante da moda e perfumaria, afirma ser uma compradora de importados e justifica porque os consome: “Tratam-se de produtos de ótima qualidade e com o preço mais em conta do que o encontrado nas lojas do Brasil.” E diz também comprá-los por gostar de estar sempre bem-vestida e na moda. Não há como negar que esse mercado encante quem é ligado em moda. Com tanto status por trás das marcas, não é difícil saber porque as pessoas se submetem a pagar tanto por um produto de determinadas marcas renomadas. Alice diz que paga por esses importados de “muambeiros”, no máximo, 80% do valor dos mesmos produtos nas lojas do Brasil. Ao ser interrogada sobre a sensação que sente ao comprar tais produtos, a jovem advogada afirma: “Maravilhosa!” Assim como há o status por trás da marca que faz a pessoa pagar um alto valor pelo produto, há o mesmo desejo sem o poder financeiro, e é aí que entram as réplicas desses produtos no mercado. “Eu os compraria sim, mas o produto original tem a qualidade superior, não há o que contestar", garante Alice. |