• Um caso de amor com o boxe



    Empresária tem a vida transformada pelo boxe chinês e treina pesado para disputar campeonato cearense da modalidade, que acontecerá em junho deste ano

    Ao visitarmos algumas academias de artes marciais, não há como não notar a quantidade expressiva delas. Em busca de dar adeus ao sedentarismo e de fugir da monotonia da musculação ou do fitness, a mulherada vem invadindo os tatames e se tornando, em muitos casos, a maioria em relação ao público masculino. E tem sido assim, pelos menos, nos últimos dois anos. Em geral, elas procuram o esporte com o intuito de emagrecerem e adquirirem um corpo definido, além de ganharem maior resistência física.

    Kalina Morais, 25, pratica Boxe Chinês
    há quase três anos (Foto: Criselides Lima)


    No entanto, existem mulheres que iniciam na arte marcial com esse propósito e estendem as relações com a mesma. É o caso da empresária pernambucana Kalina Morais, 25, que tem uma paixão imensa pelo boxe chinês. Atualmente, ela se concentra em uma meta: disputar o Campeonato Cearense de Boxe Chinês, que vai acontecer dia 21 de junho deste ano, no ginásio poliesportivo Paulo Sarasate, em Fortaleza. Para tanto, a boxeadora treina pesado, três vezes por semana, a fim de garantir a boa forma e o domínio das técnicas da arte marcial que pratica.

    Há sete anos, Kalina Morais mora em Fortaleza e, há pelo menos três, dedica-se ao boxe chinês, sob a orientação do mestre Evandro Rodrigues. Ela estava sedentária e foi em busca de um esporte. Interessada em emagrecer e enrijecer o corpo, a empresária começou a fazer musculação até que conheceu a arte marcial. Aí não teve jeito. Logo nos dois primeiros meses de treino, ela se apaixonou pela modalidade.

    A paixão é o que nos move, o que exige de nós uma doação, uma entrega. Essa definição não é diferente quando se trata da relação entre a boxeadora e o esporte amado. De três anos para cá, com muito treino e dedicação, ela já pôde disputar dois campeonatos cearenses de boxe chinês, sendo campeã na categoria em que compete, a de 52 kg. Atualmente, a empresária até já ensina a modalidade para o público feminino em duas academias no bairro Serrinha.

    Revolução

    Para lutar, Kalina teve que combater preconceitos 
    e fazer escolhas difíceis (FOTO: Criselides Lima)





     
    Disciplina, escolhas, comportamento e até negócios. O boxe chinês se tornou quase como uma religião na vida de Kalina, que já não sabe mais viver sem ele. A vida dela foi completamente transformada pela arte marcial. Para se ter uma ideia, por exemplo, a marca que a empresária criou foi por influencia do esporte. Ela trabalhava como consultora de moda em Pernambuco, até que veio morar em Fortaleza e notou uma grande carência da moda esportiva apropriada para treinos de artes marciais e afins. A partir daí, a pernambucana começou a produzir e vender produtos desse tipo com uma marca própria e a um preço bem acessível.

    Além disso, para poder treinar, Kalina precisou nocautear o preconceito e o machismo. A boxeadora chegou até a trocar o casamento de sete anos pelo boxe. Quando ela começou a lutar, o ex-marido não suportava a ideia de vê-la praticando um esporte considerado por ele como masculino. Por isso, ele tentou impedi-la de treinar. “Eu ainda tentei deixar o boxe, mas o amor falou mais alto pelo”, lembra com convicção.

    Hoje, a empresária tem um sentimento de “amor eterno” pela arte marcial. O esporte lhe garantiu uma rotina com mais liberdade e menos cansaço. “Eu tinha uma vida completamente sedentária, só trabalhava, vivia estressada. Inclusive, cheguei até a ganhar uma gastrite de estresse”, destaca.

    Campeonato Estadual


    Em relação ao próximo campeonato estadual de boxe chinês, Kalina está bem tranquila e segura. Com a experiência de dois torneios nas costas, a empresária diz que a calma é a principal técnica para vencer as lutas. “Quando a gente aprende, quando a gente se dá, a gente tem tranquilidade porque sabe que tem técnica”, explica.

    Segundo o sifu Evandro Rodrigues, mestre de Kalina, o treinamento para o campeonato é dividido em três etapas. São os exercícios de preparação de explosão muscular; exercícios cardiovasculares (mobilidade e técnicas de explosão); e a prática técnica, que envolve a luta e a preparação de quedas e arremessos. “É um esporte de contato e requer uma preparação bem mais intensa”, explica ele.

    Relação aluna e mestre

     
    Sob forte disciplina, o sifu Evandro Rodrigues prepara Kalina 
    e a sua colega de tatame Ana Luiza (direita) |FOTO: Saulo Lucas)

    Ao pé da letra, o nome ‘sifu’ significa ‘pai da arte’ e é a palavra em chinês dada ao mestre. Segundo Evandro Rodrigues, o sifu precisa ser dinâmico, autêntico e exemplar dentro e fora dos tatames. O professor avalia a dificuldade de cada aluno e vai trabalhando em cada uma delas nos treinos. É importante que o mestre seja como um “pilar” para o aluno. O respeito gera a conquista e o professor passa a ser figura importante.

    Kalina Morais é só elogios pelo mestre que a treina rigidamente. Para a boxeadora, Evandro é mais que um professor, é um amigo e até um pai. “Ele me ajudou em tudo desde que cheguei aqui. Desde a questão do treino a problemas pessoais. Ele tá sempre conversando com a gente, sempre dando bons conselhos”. E ela acrescenta: “Se a gente sair da linha, ele maltrata. Coloca a gente de castigo, (deixa) tempo sem treinar. Ele manda pagar flexão”.





    (Captação e edição de vídeo: Saulo Lucas)




    Saulo Lucas


     

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