• Sobre fraudes, quadrinhos e romances


    O engenheiro Pedro Urbano é um admirador do Cine São Luiz e narra com prazer as desventuras e aventuras vividas no cinema durante a adolescência

    As luzes se apagam. De repente, uma imensa tela branca e retangular ilumina-se à sua frente. Nesse momento, você pega a pipoca ou abraça o namorado e endireita-se na poltrona. É hora de desligar-se do mundo externo para vivenciar a magia de conhecer a história de personalidades famosas ou de pessoas completamente desconhecidas, tenham elas realmente existido ou não.


    Interior do Cine São Luiz. | Foto: Juliana Braga

    Esse ritual é uma das várias particularidades que costumam atrair tantas pessoas ao cinema há vários anos. Dentre os aficionados pela sétima arte, encontramos o professor e engenheiro eletricista de 55 anos, Pedro Urbano Albuquerque. 

    Pedro tem um carinho especial pelo Cine São Luiz, principal cinema de Fortaleza durante a década de 1960, onde viveu memoráveis experiências na adolescência.


    As escadarias de mármore com corrimões banhados a ouro
     fazem parte da decoração do Cine. | Foto: Juliana Braga
    O engenheiro conta que já foi a muitos cinemas em outras cidades do País, a exemplo de São Paulo, mas nenhum deles se compara à grandiosidade do Cine São Luiz. “São Paulo tem cinemas muito bonitos, mas nem lá tem mais esse tipo de cinema clássico, com salão, lustres de cristal, escadaria, corrimões banhados a ouro...”. A título de curiosidade, os lustres de cristal a que Pedro se refere são oriundos da antiga Tchecoslováquia.




    Fraude de carteirinha

    Em relação aos filmes, o professor diz que os horários de exibição dependiam da censura das películas. De acordo com ele, havia uma galeria que unia o Cine São Luiz ao Cine São Diogo, e nela ficavam expostos os cartazes com os horários das sessões e a censura de cada filme. “Aqueles que eram exibidos mais tarde eram os mais impróprios”, explica.

    A censura, porém, não impediu que o engenheiro, aos 16 anos de idade, assistisse ao filme “O Exorcista”, lançado em 1973 e não recomendado para menores de 18 anos. Para isso, a solução encontrada por ele foi falsificar a própria carteira de estudante, do mesmo modo que os amigos fizeram. Pedro lembra que o bilheteiro do cinema notou logo a fraude, mas o deixou passar. O professor, contudo, afirma que o “risco” não valeu a pena. “Fiquei duas noites sem dormir por causa do filme”, conta.

    Para além dos filmes

    O engenheiro Pedro Urbano teve o cinema como palco de
    suas experiências juvenis | Foto: Juliana Braga
    Mais do que um espaço para assistir às principais estreias do mundo cinematográfico, os arredores do Cine São Luiz também funcionavam como ambiente para venda e troca de revistas em quadrinhos. Segundo Pedro, a atividade ocorria na mesma galeria onde eram exibidos os pôsteres dos filmes que estavam em cartaz no cinema. “No chão sentavam-se pessoas para trocar revistas, gibis: Tarzan, Super-Homem, Zorro... Você ia passando e trocava, comprava... Tinha esse mercado”, recorda afetuosamente o engenheiro.


    Além disso, Pedro conta que, muitas vezes, também ia ao cinema só para namorar. Devido ao charme e à suntuosidade do grande hall de entrada do Cine, o professor disse que era comum entre os jovens da época o costume de tirar fotos nas escadarias com a namorada. Entre risos, Pedro apenas encerra o assunto confessando que, dentro da sala de projeção, “às vezes, o filme não interessava muito, não”.

    Leia mais:

    Os tempos áureos de um cine


    Anacelia Soares
    Bárbara Danthéias
    Juliana Braga

     

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