• "Meu filho é tudo pra mim"


    Marciane mostra, orgulhosa, a prioridade de sua vida.
    | Foto: Gleyce Any Castro

    Corredores e alas hospitalares formam o cenário do campo de batalhas. Aqui, a farda que a guerreira Marciane Araújo veste não é camuflada, mas azul. Os combates são travados quase diariamente e as vitórias aparecem quando os resultados dos exames são favoráveis à saúde do filho, Chrystian Araújo, de 17 anos, que tem hidrocefalia, microcefalia, atrofia cerebral e paralisia cerebral. Cada sorriso no rosto do garoto é uma esperança renovada no peito da mãe coruja. “Ele ri, sente, entende. Acho que por isso que ele tá até agora vivendo, porque ele sente que estou perto dele”, conta.


    Rotina difícil

    Por causa das doenças crônicas que possui, Chrystian não fala, não anda, alimenta-se através de uma sonda e respira com o auxílio de traqueostomia. Desde o nascimento do garoto, a dona de casa Marciane o leva ao Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS) para ser acompanhado pela equipe médica de lá. Apesar da necessidade de cuidados especiais, ela conseguiu criá-lo em casa até os 10 anos de idade. Foi quando aconteceu a primeira internação. A partir daí, passando por pioras na saúde, e tendo que ser internado regularmente, os médicos acharam melhor Chrystian permanecer no hospital por um período de tempo mais longo. Há um ano e cinco meses o bloco F tem sido o lar dele e de Marciane.

    Separada há 13 anos do marido, Marciane morava sozinha com Chrystian e foi em casa apenas quatro vezes após a última internação dele. Sua rotina resume-se a cuidar do garoto. Os familiares de Marciane quase não vão ao hospital. "Eles dizem que não sabem cuidar dele. As enfermeiras que ficaram olhando ele quando eu fui em casa", conta.

    Voluntários da ONG Risonhos no Hias. |
    Foto: Acervo da ONG Risonhos
    Quando fala sobre o dia-a-dia no hospital, Marciane é categórica: "É ruim, né?". Ela tem razão. Não dorme nem se alimenta direito. É preocupação demais. Mas ainda bem que o espírito de solidariedade predomina no ambiente. Além das várias amizades que construiu vivendo tanto tempo no hospital, ela conta também com o apoio dos grupos voluntários e com os projetos de humanização do próprio HIAS. Um desses grupos é a ONG Risonhos, formada por palhaços amadores, que levam alegria às crianças internadas nos finais de semana. Um alívio para o coração da mãe que vê o olhinho do filho brilhar com as palhaçadas.

    Fé na vida

    Quanto tempo mais Marciane vai ter que ficar no hospital, ela ainda não sabe. Sente saudades de casa e de quando conseguia cuidar de Chrystian sem tantos auxílios médicos, quando ele "podia estar na cadeira dele, sentado". O HIAS recebe pacientes até 18 anos, idade que o garoto atingirá em 2013. Ainda é incerto se ele permanecerá no hospital ou se terá que mudar para um atendimento adulto.

    Munida de fé e coragem, Marciane torna-se soldado da canção "Maria, Maria", de Milton Nascimento, e mostra que viver é assim: é preciso ter força, raça e gana sempre. E, desse modo, vai levando os dias, esperando por aquele em que retornará ao lar com o filho cheio de saúde. "Meu filho é tudo pra mim. Ele é em primeiro lugar", resume. Uma verdadeira heróina.

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    Gleyce Any Castro
    Fá Babini



     

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